Episódio 3 - Transcrição
Cinco de junho de 1997.
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (o STJD) anuncia que Mario Celso Petraglia está banido do futebol. Banido mesmo. Para sempre.
Na mesma decisão, o Athletico Paranaense era suspenso por um ano das competições oficiais, o que significava um rebaixamento para a Série B no tapetão.
Tudo isso por causa de um grampo telefônico em que o Petraglia aparece negociando valores com Ivens Mendes, chefe da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF.
Petraglia: Alô.
Ivens Mendes: Mario Celso?
Petraglia: É.
Ivens Mendes: Eu tô precisando que você me mande hoje R$ 25 mil.
Petraglia: Liga para a minha secretária, a Marli, dá os dados para ela, que eu entro em contato com ela e providencio.
Os fatos que levaram àquela decisão do STJD fazem parte do caso mais nebuloso do Petraglia como cartola. É uma história cheia de meandros, de intrigas, de detalhes que inspiram uma série de teorias – algumas mais, outras menos conspiratórias.
E se você pedisse a minha opinião, eu diria apenas para não se apressar em tirar uma conclusão, em emitir um julgamento. Nesse rolo aí, nada é tão óbvio quanto pode parecer.
O episódio de hoje traz uma enxurrada de informações. Fatos que podem parecer desconexos à primeira vista, mas que sustentam ou enfraquecem cada uma daquelas teorias. E aí você pode escolher qual delas é a melhor, ou criar uma versão que misture um pouco de cada uma.
A voz do Petraglia num grampo telefônico obscuro conversando com Ivens Mendes explodiu para o Brasil inteiro no Jornal Nacional, na noite de 7 de maio de 1997.
William Bonner: Exclusivo. Escândalo no futebol brasileiro. O chefão da arbitragem da CBF e presidentes de grandes clubes se envolvem numa história de corrupção, com lances que incluem acertos financeiros, promessas de favores da arbitragem e muitas mentiras
Marcelo Rezende: Escute a conversa dele com o presidente do Club Athletico Paranaense, Mario Celso Petraglia.
Ivens Mendes: Estou fazendo os campos lá, as empreiteiras já estão me cobrando, eu não acho você.
Petraglia: Ah, você não me ligou. eu te liguei umas duas vezes e não te achei.
Ivens Mendes: Como é que você quer esse recibo, ein?
MCP: Ah, isso a gente combina ainda.
Para entender a trama por trás dessa bomba, a gente precisa falar sobre os duelos que o Athletico travou antes disso contra Fluminense, Criciúma, Atlético Mineiro e Vasco.
Foram quatro adversários em seis jogos que entregaram um pacote completo do que alguns chamam de “futebol raiz”: teve golaço e defesa milagrosa, craques lendários e expulsões violentas, heróis e vilões improváveis, torcidas rivais se unindo na arquibancada e torcida quebrando o pau no próprio estádio… e muita cartolagem, negociata, declaração polêmica… enfim, folclore. Teve muito folclore.
Eu sou Filipe Andretta e este é o “Senhor da Razão?”, um documentário não autorizado sobre Mario Celso Petraglia e o Athletico Paranaense.
Vinheta de Abertura
Episódio 3: O Caso Ivens Mendes – Parte I
O primeiro daqueles quatro duelos aconteceu na reta final do Campeonato Brasileiro de 1996.
O Brasileirão como a gente conhece hoje começou apenas em 2003: um formato que ocupa ¾ do ano, tem 20 times, turno e returno, quatro rebaixados e um campeão, tudo decidido no sistema de pontos corridos.
Lá em 1996, os campeonatos estaduais, a Copa do Brasil e a Libertadores ocupavam todo o primeiro semestre. O Brasileirão começava só em agosto, com 24 times que se enfrentavam em turno único.
Apenas os dois piores seriam rebaixados, e os oito melhores formariam um mata-mata com jogos de ida e volta.
E o time do Athletico era a sensação do momento. Isso não é opinião só minha e nem da imprensa paranaense. As expressões “sensação” e “queridinho do campeonato” eram usadas com frequência na mídia nacional.
O Furacão tinha acabado de subir da Série B, no primeiro ano do Petraglia como presidente, e formou um timaço que brigava pelas primeiras posições, com uma das melhores duplas de ataque do país: Oséas e Paulo Rink.
E na 20ª rodada – ou seja, faltando apenas mais três jogos para o fim da primeira fase – o Athletico derrota o Fluminense fora de casa e assume a liderança.
Gil Rocha/TV Globo: O Fluminense e Athletico de novembro de 1996, nas Laranjeiras, tinha tudo para ser lembrado como apenas um grande jogo. O Athletico perdia de 1×0. O Athletico tinha Oséas e Paulo Rink e virou bonito para 3×1. O melhor do jogo foi o meia Luiz Carlos, que fez dois gols. Mas tudo começou a dar errado pouco depois que o Fluminense teve esse pênalti a favor, e o placar ficou no 3×2 para o Athletico. A torcida do Fluminense estava irritada além da conta com Ricardo Pinto, ex-goleiro do clube carioca. Para complicar, o Juiz ainda levou o jogo até os 57 minutos, quando explodiu o que ficou conhecido como “A Batalha das Laranjeiras”. Cenas Lamentáveis que puseram em risco a vida de Ricardo Pinto, atingido na cabeça
A Batalha das Laranjeiras foi uma vergonha para o Fluminense, dentro e fora de campo.
Com a derrota de virada, o tricolor carioca terminou a 20ª rodada na lanterna.
E durante a partida, a torcida já ameaçava:
Torcida do Fluminense: êêê se o Flu perder, a porrada vai comer…
(“êêê se o Flu perder, a porrada vai comer”)… E comeu.
A principal vítima foi o goleiro athleticano, Ricardo Pinto. Ele tinha sido revelado no Fluminense e jogou lá por nove anos.
Quando o jogo acabou (depois de uns acréscimos generosos), ele comemorou em frente à torcida tricolor.
Aí começou a baixaria. A polícia não conseguiu conter os invasores, dentre eles uns babacas que usavam até barra de ferro como arma.
Só que o Ricardo Pinto não fugiu. Ele enfrentou os malucos e tomou umas pancadas que lhe renderam um edema cerebral, oito pontos na cabeça e cinco dias de observação na UTI.
Mas sobreviveu. E pelo sangue derramado em campo, entrou para o rol de heróis da torcida rubro-negra.
No episódio dois a gente apresentou o Julião da Caveira, que foi presidente da Torcida Organizada Os Fanáticos por 15 anos.
Escuta só o que ele falou numa entrevista para o Juliano Lorenz, o Fuska da Trétis TV:
Julião da Caveira: Eu só tenho um ídolo. Um único ídolo como jogador que foi o Ricardo Pinto. Porque eu vi esse cara dar sangue, literalmente, Eu estava na Laranjeira. Participei da confusão, da briga… O pau torou, nós estava junto. E o Ricardão é um cara que eu tiro o chapéu.
Mas o que interessa nesse jogo para o nosso documentário é registrar o início de uma rivalidade especial entre Athletico e Fluminense. Uma disputa que esquentou ainda mais no final daquele Brasileirão.
Vamos, então, ao 2º jogo-chave para o caso Ivens Mendes: Athletico e Criciúma, na velha Baixada, dia 24 de novembro de 1996.
Era a última rodada da primeira fase. O Bragantino já estava rebaixado e três clubes disputavam para não cair em penúltimo: Fluminense, Bahia e Criciúma. Os três jogariam fora de casa.
O Fluminense fez a parte dele e meteu 3×1 no Vitória.
Só que o resultado não foi o suficiente, porque o Bahia venceu o Flamengo no Rio por 1×0 e o Criciúma ganhou do Athletico em Curitiba, de virada, por 2×1.
E aqui a gente apresenta a primeira teoria para você saborear como quiser: Athletico Paranaense e Flamengo perderam de propósito para rebaixar o Fluminense.
O Flamengo porque é o maior rival do Flu, e o Athletico para se vingar da Batalha das Laranjeiras.
Locutor/CNT: Termina a partida. O Criciúma se mantém na 1ª divisão com esta vitória. Comemora bastante como se tivesse conquistado uma vaga para a fase final. Os jogadores do Athletico saem cabisbaixos, mas o torcedor comemora a desclassificação do Fluminense, que vai para a segunda divisão. Aí a bandeira quadriculada do Criciúma tremulando entre os torcedores do Athletico. O futebol do Sul se une nesta fase final. E veja aí, o jogador do Criciúma joga a sua camisa para a torcida do Athletico e recebe uma rubro-negra em troca. Os jogadores saem de campo comemorando a permanência na 1ª divisão. 2×1 diante do Athletico.
Vendo os melhores momentos da partida, não aparece nenhum lance escandaloso. Pelo contrário: o Athletico abre o placar com Paulo Rink, cria várias chances, mas toma a virada em lances comuns.
Além disso, o jogo valia muito mais para o tigre catarinense, que brigava para não cair, do que para o Furacão, que já estava garantido entre os oito primeiros.
Agora, o clima nas arquibancadas realmente era no mínimo curioso. A crônica esportiva da época registrou como a torcida do Athletico vibrava com lances a favor do Criciúma.
E a situação ficou tão desconfortável que os jogadores já saíram de campo se explicando.
Marcão: Vocês viram que foi um bom jogo, não foi um jogo armado…
– Esse aí é o atacante Marcão, do Criciúma –
…As pessoas podem até pensar que o Athletico Paranaense entregou o jogo. Mentira. O Athletico buscou o resultado desde o começo da partida porque para eles era interessante vencer e ficar entre os quatro.
Paulo Rink: Eu entendi que a torcida vibrou depois do jogo.
– e esse, agora, é o Paulo Rink, artilheiro athleticano –
Tá certo, caiu o Fluminense, mas nós não temos nada a ver com isso, os jogadores tentaram ganhar o jogo e eu fiquei muito chateado de ter perdido.
Mas o que mais me chamou a atenção é que, no mesmo dia do rebaixamento, dirigentes, jogadores, técnicos e a própria imprensa começam a falar abertamente sobre uma virada de mesa para manter o Flu na Série A.
Jefferson Abner/TV Globo: No vestiário, choro, tristeza e desabafo.
Renato Gaúcho: Futebol é uma podridão. É podre. Começa a ver os jogos do Criciúma, os últimos jogos dele. Vê o jogo do Bahia contra o Vasco. Daí você vai ver onde está a máfia. E como o futebol é podridão, a gente vai tentar virar a mesa. Porque muita gente já conseguiu, por que não o Fluminense?
Se você não reconheceu, essa última voz aí foi do Renato Portaluppi, mais conhecido como Renato Gaúcho. Foi um dos grandes atacantes das décadas de 1980 e 1990, e também um dos mais falastrões (uma característica que o acompanha até hoje).
Renato Gaúcho: O meu jeito é esse. / Quem quer estudar na Europa vai. Eu tô falando que eu não preciso ir, porque eu me garanto. / Eu tava num programa de televisão alguns anos atrás, estava passando um gol do Pelé, aí o Pelé cutucou e falou ‘aí, Renato, mais de mil gols’, eu falei ‘pô, Pelé, cada gol teu era uma mulher minha’. / O meu jeito é esse. / O meu jeito é esse. / Aí vocês veem o time do Guardiola, o time do Mourinho e fala ‘nossa, mas que futebol bonito’. Aí até o Stevie Wonder. / ‘E o Cristiano Ronaldo, você jogou mais que ele mesmo, você tem convicção?’… Com certeza. / Porque nós vamos brincar no Campeonato Brasileiro. / Gostaria de mandar essa flor para o meu amor, bom, dá licença, aproveitando o tempo também, mandar para o outro meu amor, a Carla… Patrícia, jamais esqueceria. A Zilda, inclusive uma aqui em Belo Horizonte, outra lá em São Paulo… toma, meu amor! / O meu jeito é esse.
O Renato Gaúcho estava no final de carreira como jogador. Já era ídolo de Grêmio, Flamengo e Cruzeiro quando foi contratado pelo Fluminense, em 1995, ano em que foi campeão carioca com um místico gol de barriga.
Luiz Carlos Júnior/TV Globo: O empate dá o título ao Flamengo. Aílton, cortou na perna esquerda, já na grande área, mais um corte, lindo lance, GOOOOL. É do Fluminense. A bola pegou no Renato, na barriga do Renato. Confirmando, Renato faz o terceiro, meio sem querer, um gol de quem tem estrela, de quem tem carisma.
Na reta final do Brasileirão de 1996, num desespero total, o Renato Gaúcho, com 34 anos, assume como jogador e treinador ao mesmo tempo para tentar salvar o time. E chegou a dizer para a torcida que desfilaria pelado se o Fluminense jogasse a segunda divisão de 1997.
Olha: o campeonato nem tinha acabado ainda, porque faltavam as finais entre os oito melhores, mas os cartolas já anunciavam reuniões para discutir, sem nenhum pudor, formas de ter o Fluminense na primeira divisão do ano seguinte.
O presidente da Liga de Futebol do Rio e ex-presidente do Flamengo, Dunshee de Abranches, cobrou publicamente que fosse colocado em prática um acerto com a CBF para que campeões brasileiros não pudessem ser rebaixados.
Simples assim: ele queria inserir no regulamento a regra absurda do “time grande não cai”.
Bem. O que eu posso te adiantar é que o Renato Gaúcho não desfilou pelado e que o Fluminense não jogou a Série B de 1997, mesmo tendo sido rebaixado em campo.
E tudo isso por causa do escândalo Ivens Mendes.
Mas vamos deixar o tapetão do Flu para depois, porque a gente precisa falar antes do terceiro duelo deste episódio: um confronto em dois jogos entre os atléticos Mineiro e Paranaense, pelas quartas-de-final do Brasileirão de 1996.
Narrador/Band Minas: O que você quer é bola rolando. Então taí o que você queria!
Depois de 13 anos, o Furacão volta a disputar o mata-mata do Campeonato Brasileiro. E o primeiro jogo, no Mineirão, em 28 de novembro de 1996, foi um jogaço.
Já no comecinho, o Oséas mete uma bola na trave. Depois o Galo carimba o travessão numa falta batida pelo camisa 10, Fábio Augusto.
Mas quem abre o placar é o zagueiro Andrei depois de um escanteio cobrado da direita pelo lateral Alberto Valentim. O Furacão vai para o intervalo vencendo por 1×0 fora de casa.
Só que o time do Galo era embaçado. O ataque tinha o artilheiro Renaldo e o Euller (um ponta tão rápido que ficou famoso pelo apelido “o filho do vento”).
E o goleiro era simplesmente um dos maiores que esse esporte já viu. Titular da Seleção na Copa do Mundo de 1990, tetracampeão na de 1994, e que ainda brilharia levando a Amarelinha para mais uma final, em 1998.
Galvão Bueno/TV Globo: Vai Cocu para a cobrança. Ele e Taffarel. Vai partir Cocu, na perna esquerda, ele e Taffareeeeel… sai, sai, sai que é sua Taffarel! Caiu certo Taffarel para fazer a defesa…
No segundo tempo no Mineirão, o Galo vira o jogo para 3×1, com uma atuação monstruosa do Euller.
Como o Furacão terminou a primeira fase em 4º lugar, à frente do Galo, 5º colocado, tinha a vantagem de decidir em Curitiba.
E essa segunda partida seria uma espécie de ritual de passagem do Petraglia como dirigente de futebol. É ali que ele mostra para todo o Brasil que o doutor Mario Celso não passaria batido como só mais um cartola.
Em 1996, o Brasil vivia o crescimento da TV por assinatura e do Pay Per View, que traziam novas receitas para o futebol.
Quem disputava essa fatia do mercado eram os canais SporTV, do Grupo Globo, e a ESPN, ligada à TVA e ao Grupo Abril (o mesmo que editava as revistas Placar e Veja).
Comercial TVA: Prepare-se. A temperatura da sua TV vai subir. Quer ver? TVA Digisat. Você assina e sua parabólica fica antenada na programação mais quente, com imagem de videolaser e som de CD, 24 horas por dia
A negociação das emissoras com os times era feita em blocos.
De um lado estava o Clube dos 13, que reunia os mais poderosos do chamado “eixo”: quatro paulistas (Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos), quatro cariocas (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo), dois gaúchos (Inter e Grêmio), dois mineiros (Atlético e Cruzeiro), mais o Bahia.
Eram eles que davam as cartas desde 1987, numa parceria com a Rede Globo, decidindo o formato do campeonato, o calendário, a grade de transmissão e, principalmente, a divisão da grana que vinha da TV.
Para brigar por condições melhores, os times excluídos se uniram no Clube dos 11 (ou dos 12, cada um chama de um jeito). Entre eles estavam Athletico Paranaense, Coxa e Paraná, além de Juventude, América-MG, Vitória, Goiás, Sport e outros.
E o líder desse grupo insurgente era Mario Celso Petraglia.
O jogo de volta entre os Atléticos interessava para a TV aberta. Globo e Band queriam transmitir ao vivo para Belo Horizonte, mas não contavam que haveria um Petraglia no caminho.
Segundo a Tribuna do Paraná, as emissoras ofereceram R$ 25 mil para transmitir o jogo ao vivo para BH, depois subiram a proposta para R$ 30 mil. Corrigido pela inflação, isso dá quase R$ 150 mil reais em 2023.
Veja, não é grande coisa, se você considerar que R$ 150 mil não paga o salário de muito jogador de Série A hoje. Ao mesmo tempo, não é pouco, principalmente para um time periférico que estava se reestruturando.
O Petraglia disse à imprensa que não venderia o jogo por migalhas, que o Athletico estava valorizando o seu produto, e que ele exigia um tratamento igual ao do Clube dos 13 para a temporada seguinte.
Reza a lenda em Curitiba que o homem até pegou um machado e ameaçou cortar os cabos para impedir a transmissão. Mas eu não encontrei ninguém que me confirmasse essa história.
O fato é que milhões de pessoas esperavam acompanhar o jogo pela TV, mas tiveram que ficar no bom e velho radinho.
Foi uma posição firme e ousada de Mario Celso Petraglia. Ele abriu mão de receber uma grana, comprou uma briga com a poderosa Rede Globo, mas passou o recado: o Athletico não iria se contentar em ser coadjuvante – nem dentro, nem fora de campo.
É interessante observar que, depois de quase 30 anos, a briga do Petraglia continua a mesma.
Ele segue liderando um movimento pela distribuição mais equilibrada das cotas de TV, usando como modelo a Premier League (o campeonato inglês).
Só que hoje a disputa não é mais Clube dos 13 contra o Clube dos 11. Os times estão divididos entre Libra e Liga Forte Futebol.
A Libra tem Corinthians e Flamengo, as duas maiores torcidas do país, o que dá a ela um poder de barganha enorme na mesa de negociação.
O Athletico Paranaense, como de costume, está entre os insurgentes, e o Petraglia virou tipo um porta-voz da Liga Forte Futebol.
Petraglia: O que nós queremos é dividir melhor, mais justo, não o Flamengo ter 70 vezes o valor do Athletico Paranaense em Pay Per View. 70 vezes, na mesma competição! Que joguem sozinhos. Joguem Flamengo contra Corinthians, Corinthians contra Flamengo. Agora, eles precisam dos outros 18 e querem para fazer um produto, que é o Campeonato Brasileiro, e querem, como sempre, ficar com tudo.
É evidente que o Petraglia tem interesse em aproximar o valor das cotas de TV, porque isso seria benéfico para o Athletico.
Mas ele argumenta que essa equalização tornaria o campeonato mais competitivo, atraindo mais público, mais investimento e, no fim das contas, mais dinheiro para todo mundo.
Faz sentido?
Ok, Andretta. Mas e o jogo?
Desculpe, divaguei e perdi o fio de meada.
Gil Rocha/TV Globo: 28 mil torcedores no estádio da Baixada em Curitiba para o duelo entre os Atléticos. O Paranaense, precisando vencer por dois gols de diferença, vai para cima e tem as melhores chances. Aos 44 sai o gol paranaense. Jean Carlo para Clóvis, depois da tabela com Paulo Rink, Clóvis manda rasteiro para o gol de Luiz Carlos.
1×0. O Furacão volta para o segundo tempo precisando de apenas mais um gol, porque tinha a vantagem do empate no placar agregado. E o sonho fica ainda mais vivo quando Dinho, do Galo, é expulso aos cinco minutos por um carrinho em Paulo Rink.
A Baixada vira um caldeirão e a torcida sente que o segundo gol é só questão de tempo.
Só que, aos 13 do segundo tempo, surge o vilão da jornada rubro-negra. O meia Jean Carlo mata com violência um contra-ataque do Galo pelo lado da rua Brasílio Itiberê. Cartão vermelho.
Os dois times ficam com dez em campo e o Galo consegue esfriar a partida. O jogo acaba 1×0 e termina ali o ano do Athletico Paranaense.
Como você deve imaginar, depois de uma expulsão infeliz, o meia Jean Carlo foi o bode expiatório da eliminação.
Ele não era qualquer um: ganhou um Brasileiro, um Torneio Rio-São Paulo e dois paulistas pelo Palmeiras da era Parmalat, em 1993 e 1994.
Chegou ao Furacão pelas mãos do técnico Emerson Leão, no início de 1996.
Depois da eliminação naquela tarde de domingo, ainda no vestiário, Jean Carlo conheceu o lado impiedoso de Mario Celso Petraglia: quando o homem entende que alguém vacilou, é rua. Tolerância zero.
Jean Carlo: Tive um problema no Athletico, no último jogo do Athletico Paranaense. Fui expulso no último jogo.
–Esse é um relato do próprio Jean Carlo no podcast Talk Show de Bolas, em abril de 2023–
Fomos fazer uma jogada curta de escanteio, erraram o escanteio, eu tô no rebote e saio no Euller. O Euller dá o tapa, dá o tapa, quando eu achei que dava pra chegar eu puf… expulso, direto! (E o Euller quase não corria, né?…). Não foi jogada para expulsão. Depois fui ver: era para mim ter sido preso. Foi quando o Athletico começou todo aquele processo… Eu tinha feito uma temporada excelente, cara. Só que era o Petraglia. O Petraglia é muito orgulhoso. Quando ele chega no vestiário e diz que eu não visto mais a camisa do Athletico, você não vai vestir. Aí ele foi para um programa à noite de televisão, mesa redonda, falou a mesma coisa: ‘agora Petraglia, com a cabeça mais fria, vamos falar do Jean Carlo’, ‘Não veste mais a camisa do Athletico’.
Pausa para alguns recados.
Primeiro, uma errata. Nos episódios 1 e 2 a gente disse que a inauguração da Arena da Baixada foi em 22 de junho de 1999, mas a data certa é 24 de junho. Então, fica a correção e o agradecimento ao ouvinte Ricardo Maldonado, que fez o alerta.
Agora um recado para você que apoiou o documentário com R$ 70 ou mais: você é fera! Muito obrigado!
E para tentar retribuir o apoio, a gente te enviou um link para um material exclusivo, com a íntegra de duas entrevistas feitas para os episódios 3 e 4.
A primeira delas é simplesmente com um dos maiores jornalistas do Brasil: Juca Kfouri. Um pioneiro das investigações esportivas, cobrindo escândalos do futebol há mais de 40 anos. Colunista da Folha de S.Paulo e do UOL, ex-diretor das revistas Placar e Playboy… dispensa maiores apresentações.
Nesse papo, além de dar a opinião dele sobre o Caso Ivens Mendes, o Juca falou pela primeira vez de um encontro saboroso que ele teve com o Petraglia na Cantina Baviera, em Curitiba, onde eles se reconciliaram.
Juca Kfouri: Fomos a um restaurante que estava absolutamente vazio. Entramos, fomos atendidos pelo dono do restaurante. Lá no fundo, à meia-luz, estava a figura do Petraglia…
E, falando nisso, atenção para uma promoção imperdível: quem for à Cantina Baviera e fizer uma publicação marcando as redes sociais do restaurante e do documentário “Senhor da Razão?” ganha uma taça de vinho na faixa. É só correr para o abraço!
Se você apoiou com pelo menos R$ 70 e não recebeu o link para o episódio exclusivo, por favor, mande um email para contato@senhordarazao.com.br
E se você ainda não apoiou, fica o convite. O link está no site senhordarazao.com.br (Senhor da Razão tudo junto, sem til nem interrogação), ou você pode ir direto no site apoia.se/senhordarazao.
E, a pedidos, agora nós temos também a opção de apoio direto por Pix: é só fazer a transferência para o email contato@senhordarazao.com.br . (Repetindo: Pix para contato@senhordarazao.com.br)
Quem contribuir com R$ 70 ou mais receberá o link para o episódio extra já publicado, além de um WhatsApp da produção para enviar perguntas e comentários.
A outra entrevista que a gente liberou inteira para os apoiadores é com Paulo Carneiro, ex-presidente do Vitória e que também foi diretor de futebol do Furacão entre 2015 e 2016.
Assim como o Athletico, o Vitória tinha ficado de fora da panelinha dos grandes clubes nos anos 1990, e lutava para receber valores maiores das emissoras de TV. O Paulo Carneiro foi um parceiro do Petraglia nas reuniões em que os dois batiam de frente com o Clube dos 13 e com a Globo, como ele mesmo me contou.
Paulo Carneiro: Eu sei que ele impedia a transmissão no no estádio, né? Não pagava… E passavam para nós o seguinte ‘nós estamos divulgando a marca do Clube’. A história é essa. Não pagavam e a gente tomava as providências, né? Eu tirei carro… eu tirei carro da Globo de dentro do estádio do Guarani. O presidente ligava para mim “o carro tá entrando aqui”, eu ‘bota pra fora’. Nós comandávamos os nossos clubes mesmo.
Filipe: Outra coisa que eu encontrei aqui foi a parte ali do primeiro semestre de 1997, o senhor e o Petraglia participando de algumas reuniões com o clube dos 13, com a Globo, para para negociar condições melhores para o campeonato de 1997…
Paulo Carneiro: A gente se reunia no hotel Guanabara de manhã para se preparar para a reunião do conselho técnico da CBF à tarde. Entendeu? Era assim. Sempre tinha os traíras, os caras que participavam de um lado mas era um teleguiados pelo outro lado.
Filipe: Eu encontrei até alguns relatos do Fábio Koff, que era Presidente do Clube dos 13, confessando que ele acabava aliciando alguns times do clube dos 11 para enfraquecer essa revolta aí.
Paulo Carneiro: É verdade. Fábio era um cara… era muito meu amigo até, mas eu não posso negar, isso é verdade.
Filipe: E teve alguns desentendimentos nessas reuniões. Quem eram os principais adversários desse Clube dos 11, pessoalmente?
Paulo Carneiro: O mais importante era Eurico Miranda.
Eurico Miranda. Talvez a figura mais folclórica do futebol brasileiro.
A história de Eurico Miranda se confunde com a do próprio Vasco da Gama. Ele começou a participar da administração do clube no final da década de 1960 e virou o homem-forte no final dos anos 1980.
Também assumiu cargos na CBF e foi deputado federal (informação importante para depois).
O Eurico morreu em março de 2019, deixando como legado muitas alegrias para os vascaínos (principalmente o título da Libertadores de 1998). Mas deixou também dezenas de casos polêmicos – alguns engraçados, outros nem tanto. Ele era famoso por fazer acontecer as coisas a favor do Vasco e de si próprio, custasse o que custasse.
O meu episódio favorito para ilustrar Eurico Miranda aconteceu no Brasileirão de 1999.
O Vasco vencia o Paraná Clube por 1×0 em São Januário. Aí o Vasco perde dois jogadores expulsos e o Paraná empata. Quando chega aos 41 do segundo tempo, o juiz Paulo Cesar de Oliveira expulsa o 3º jogador do Vasco.
Com os prováveis acréscimos, o Paraná teria pelo menos dez minutos para virar o jogo fora de casa, com três jogadores a mais em campo. Só que, daí…
Ana Zimmerman/TV Globo: Eis que surge em campo Eurico Miranda. Ninguém segura o vice-presidente de futebol do Vasco. Os dirigentes ainda não aprenderam que o lugar deles é fora de campo, e têm o apoio da torcida…
Eurico Miranda: O senhor é irresponsável. O senhor tá vendo… tem um estádio cheio, o senhor é irresponsável.
Ana Zimmerman/TV Globo: Irresponsabilidade de todos que invadiram o campo… e que provocaram o fim da partida aos 42 minutos, em 1×1.
Muita gente compara o Eurico Miranda ao Petraglia. Os dois têm em comum o estilo autoritário e o fato de terem conquistado grandes feitos à frente dos clubes que comandaram durante décadas.
Mas, em termos de gestão, eles eram de espectros opostos.
O Eurico era um cartola à moda antiga, um símbolo do tal conceito “futebol raiz”. Já o Petraglia é o cara do “futebol gourmet”, pioneiro, modernizador (naming rights, grama sintética, clube-empresa, arena multiuso e tal).
E quando dois dos maiores cartolas da história se encontravam, com suas semelhanças e diferenças, saía faísca.
Benjamin Back/Fox Sports: O que que o senhor achou da volta do Eurico, presidente do Vasco
Petraglia: Ah, não me fala nisso. Me nego… essa trombada vem de longo tempo, querendo sempre a transformação do meu clube, que conseguimos, e a transformação do Vasco, que ele também conseguiu: jogou no fundo do poço, e nós, em cima da montanha. Mas uma passagem, nós estávamos discutindo no Clube dos 13, daí ele conduzindo daquele jeito dele, truculento… chegou uma hora não deu mais diálogo e eu parti fisicamente para cima dele. Só que o Paulo Carneiro tinha 30 kg a mais. Ele é da minha altura e dessa largura. Ele me segurou, ‘Mario, calma’. Eu tentei tirá-lo da frente, mas ele parecia uma parede. Nem se mexeu. Daí a adrenalina baixou, eu desisti e acabou a reunião
O Eurico Miranda foi o principal responsável por montar um dos maiores esquadrões do futebol nacional, em 1997. Estou falando do Vasco campeão brasileiro com Carlos Germano, Mauro Galvão, Juninho Pernambucano, Ramón, Evair e a grande estrela, claro: Edmundo, o Animal.
Luciano do Valle/TV Band: Chegou na linha de fundo. Cruzamento lá do lado esquerdo. Edmundo. Pegou Edmundo, contra dois, bateu… GOOOOOLAÇO. Gol de placa! É o maio artilheiro do Campeonato Brasileiro com um gol de placa aqui no Maracanã. Olha o que ele fez: levou o Leandro, levou o Baiano, trocou de pé e rolou no canto esquerdo… é de placa, de placa esse gol de Edmundo.
1997 foi um ano absurdo do Edmundo. Ele meteu 29 gols num Brasileirão de 31 rodadas – um recorde que só seria quebrado no formato de pontos corridos, que tem sete rodadas a mais.
Seis desses gols foram num só jogo. Sim, o animal marcou todos os gols no 6×0 contra o União São João.
Mas eu não comecei a falar do Edmundo à toa. Sem querer, ele virou uma peça-chave no Caso Ivens Mendes.
Voltamos, então, ao Jornal Nacional de 7 de maio de 1997, que foi o estopim do escândalo.
Vinheta de abertura do Jornal Nacional
Marcelo Rezende: O mineiro Ivens Mendes é a maior autoridade na arbitragem do futebol brasileiro. Diretor executivo da Confederação Sulamericana de Futebol e presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, ele decide quem apita no Campeonato Brasileiro e indica os nossos juízes para a Fifa. Mas o homem que concentra tanto poder quer mais: sonha em ser deputado federal no ano que vem. Sem recursos para bancar a campanha, Ivens Mendes passou a usar o cargo que ocupa na CBF. Insinua favores na arbitragem e pede dinheiro a presidentes de clubes. Orienta fraudes em licitação e recebe propina de fornecedor da Confederação Brasileira de Futebol. As provas estão nestas fitas, que nós recebemos anonimamente. As fitas foram analisadas em laboratório e são autênticas.
Nesse momento da matéria, o repórter Marcelo Rezende exibe uma fita cassete.
(Se você tem menos de 25 anos, provavelmente vai ter que procurar no Google o que é uma fita cassete)
A reportagem continua por alguns minutos, explicando as pretensões políticas de Ivens Mendes, as obras que ele tocava no Triângulo Mineiro para impulsionar a pré-campanha, e outros detalhes.
Aí entra o tal grampo telefônico com o Petraglia.
Marcelo Rezende: Ivens Mendes também usa a força do cargo para arrecadar dinheiro com presidentes de grandes clubes brasileiros. Escute a conversa dele com o presidente do Club Athletico Paranaense, Mario Celso Petraglia.
Ivens Mendes: Estou fazendo os campos lá, as empreiteiras já estão me cobrando, eu não acho você.
Petraglia: Ah, você não me ligou. Eu te liguei umas duas vezes e não te achei.
Ivens Mendes: Como é que você quer esse recibo, ein?
Petraglia: Ah, isso a gente combina ainda.
O trecho que vai vir na sequência é “pulo do gato”. Um trabalho sagaz de apuração e de edição, que tinha à frente o experiente repórter Marcelo Rezende.
Quem cresceu nos anos 1990 e 2000 deve se lembrar dele em outra função, apresentando o programa policial Linha Direta.
Vinheta Linha Direta
Antes do Linha Direta, o Marcelo Rezende era um repórter especial da Rede Globo. Quando ele aparecia em algum lugar, todo mundo já ficava de cabelo em pé, porque ele não era enviado para cobrir qualquer coisinha – estava sempre atrás dos casos mais cabeludos, das investigações mais tensas.
Quando o Marcelo Rezende desembarca em Curitiba para se encontrar com o Petraglia, a sensação de “vai dar merda” toma conta da diretoria do clube.
Mesmo assim, o Petraglia recebe o jornalista e responde algumas perguntas. E é aí que ele se complica.
O repórter sabia do conteúdo do grampo, o Petraglia ainda não.
E no trabalho de edição, as negativas do Petraglia são imediatamente confrontadas com trechos da tal fita cassete.
Marcelo Rezende: Nós conversamos com o presidente do Athletico Paranaense, Mario Celso Petraglia, na semana passada, em Curitiba. Primeiro, numa conversa que não foi gravada, ele disse que Ivens Mendes tinha solicitado apenas material para construção de campo de futebol. E negou qualquer pedido de dinheiro. Depois, nessa entrevista, o presidente do Athletico Paranaense negou tudo.
O senhor, em algum momento, recebeu algum telefonema pedindo algum tipo de apoio político, e também de apoio financeiro, dinheiro?
Petraglia: Absolutamente não. Telefonema Nenhum.
Petraglia (grampo): Alô.
Ivens Mendes: Mario Celso?
Petraglia: É.
Ivens Mendes: Eu tô precisando que você me mande hoje R$ 25 mil.
Petraglia: Liga para a minha secretária, a Marli, dá os dados para ela, que eu entro em contato com ela e providencio.
Marcelo Rezende: Ele não lhe telefonou de novo perguntando se já havia sido feito o depósito?
Petraglia: Não, absolutamente.
Ivens Mendes (grampo): Sou eu, Ivens. Você não falou com a Dona Marli?
Petraglia: Já falei, já tá aí. Já foi!
Ivens Mendes: Já foi? Falei com ela agora…
Petraglia: Já foi!
Ivens Mendes: Tá bom, abraço.
Esse é um momento bem constrangedor.
Na minha opinião, o tom de voz do Petraglia mostra que ele está incomodado com aqueles pedidos de dinheiro. Inclusive, parece até que o Petraglia está enrolando, “dando um perdido” no Ivens Mendes, dizendo que já tinha transferido a grana.
Mas o fato é que a imagem do Petraglia ficou abalada. Ele foi pego se contradizendo, mentindo na matéria de destaque do maior telejornal brasileiro.
Só que até esse ponto, a denúncia ainda era meio abstrata: o Ivens Mendes pediu dinheiro, o Petraglia prometeu ajudar… e daí? Uma negociação entre dois adultos que, apesar de suspeita, não provava muita coisa.
O que que o Petraglia ganhava com isso?
Mais uma vez, o Marcelo Rezende não deixa ponta solta, e costura na matéria um provável benefício do diretor da arbitragem para o Athletico.
Marcelo Rezende: As fitas mostram que a contrapartida oferecida pelo diretor da CBF para quem colabora com a campanha é a pressão sobre os árbitros. Ouça o que Ivens Mendes diz para o presidente do Athletico Paranaense, dias antes do jogo entre o Athletico e Vasco pela Copa do Brasil.
Ivens Mendes: Tem que sentar a borduna no Vasco aí. Eu, se puder, vou até falar com o juiz para dar uma mãozinha para você.
Petraglia: Quem é que vem aí?
Ivens Mendes: Aí é o Godoi, o Oscar. Até precisa falar para os seus jogadores que esse Oscar é meio unha de cavalo. Não reclamar, não fazer p… nenhuma. Marca direitinho o Edmundo, ele fica nervoso.
Esse último diálogo indica que Petraglia e Ivens Mendes foram grampeados dias antes da primeira partida das oitavas da Copa do Brasil, em 3 de abril de 1997.
O Athletico receberia o Vasco no Pinheirão (estádio da Federação Paranaense), porque a Baixada estava em reforma. O grande desafio para o Furacão, claro, era parar o Edmundo.
Tudo fica mais fácil aos 25 do primeiro tempo, quando o zagueiro Andrei, do Athletico, se estranha com Edmundo num lance sem a bola e os dois são expulsos.
O Furacão perde um zagueiro. O Vasco perde um dos melhores jogadores do mundo.
O Athletico venceu a ida por 3×1. No jogo de volta, sem Edmundo (cumprindo suspensão), o Vasco até vence por 4×3, mas o Athletico se classifica pela soma dos placares. O rubro-negro eliminava um dos melhores times da década, mas em circunstâncias suspeitas.
E se você está curioso para saber como foi essa expulsão, eu também estou. Esse agora é o meu lamento de jornalista.
A reportagem da Globo não mostrou o lance da expulsão. Quem tinha as imagens era a ESPN, que transmitiu o jogo.
Eu solicitei acesso ao acervo da ESPN, que me pediu um monte de informações sobre o documentário. Eu respondi, insisti por meses, mas não tive retorno.
Também tentei encontrar locuções de rádio da partida, só que ainda não consegui. Infelizmente, nenhuma das rádios locais conservou um arquivo para consulta.
Procurei também Edmundo, Andrei e o juiz Oscar Roberto Godoi. Nenhum dos três respondeu.
Os jornais impressos também são vagos em relação ao lance da expulsão. Uma reportagem diz que o Andrei revidou uma provocação do Edmundo, outra relata que o Andrei começou a briga com um soco, outra fala só que os dois trocaram empurrões…
Por isso eu não posso ainda te dar mais detalhes do lance. Se você tiver imagem, áudio ou mais informações, fale com a gente no contato@senhordarazao.com.br, ou nas nossas redes sociais.
Bem. Voltando ao que importa, o cartão vermelho para o Edmundo naquela partida seria só mais um entre vários que ele recebeu durante a carreira – ele era bem esquentadinho em campo e não perdia uma chance de provocar o adversário.
Mas é claro que a expulsão contra o Athletico na Copa do Brasil ganhou outro significado depois da reportagem no Jornal Nacional.
Aquele cartão vermelho virou o principal indício de que o Ivens Mendes manipulava a arbitragem a favor dos dirigentes que contribuíam para a campanha política dele. E o Petraglia se tornou um exemplo de corruptor.
No episódio que vem, a gente conta os desdobramentos dessa história no STJD, na virada de mesa do Brasileirão e numa Comissão da Câmara presidida por ninguém menos do que o nobre deputado federal Eurico Miranda.
E vamos continuar elaborando teorias sobre o Caso Ivens Mendes, que envolvem o Fluminense, o Corinthians e a Rede Globo.
Para falar sobre essas teorias, a gente traz opiniões controversas do próprio repórter Marcelo Rezende, além da ilustre participação de Juca Kfouri.
Juca Kfouri: Você sabe que eu tenho um ponto de vista em relação a este episódio, a este episódio especificamente, digamos que, de certa maneira, se não absolve, atenua o papel do Petraglia por uma razão muito simples…
Quem apoiou o documentário com R$ 70 ou mais já pode escutar essa entrevista completa no episódio exclusivo. E quem apoiar a partir de agora também vai receber o link para esse material extra, além do WhatsApp da produção para mandar dúvidas e comentários em geral.
Você ouviu o terceiro episódio do ‘Senhor da Razão?’, um documentário independente e não autorizado sobre Mario Celso Petraglia e o Athletico Paranaense.
Esse documentário tem pesquisa, produção, entrevistas, locução, roteiro e edição sonora de Filipe Andretta.
As locuções foram gravadas com o apoio da Arnica Cultural, em Curitiba.
A revisão e checagem são da athleticana Clara Vicente.
A vinheta e as trilhas sonoras são do palmeirense Vinícius Antunes, com áudios da soundstripe e da artlist.
O site e a identidade visual são do flamenguista Fabricio Vinhas,
E a assistência de produção é do athleticano André Carneiro.
Além de trechos de entrevistas exclusivas, esse episódio usou áudios de:
- Rede Globo
- TV Band
- Gazeta do Povo
- Rádio Transamérica
- TV Cultura
- Grêmio TV
- ESPN
- Athletico Paranaense
- Trétis TV
- CNT
- TVA
- SporTV
- Talk Show de Bolas
- Fox Sports
Até a próxima.